DIRETRIZES TEÓRICAS E MODO DE EXPOSIÇÃO DA TEORIA DA HISTÓRIA – Divisão social do trabalho sexual – SISTEMATIZAÇÃO TEÓRICA e VERIFICAÇÃO EMPÍRICA

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 Livro Teoria da História (Art. 13, 2.1.2; 2.1.3., p. 91-96) www.tribodossantos.com.br

     O autor pré-diluviano da Teoria da História concebe o Criador como Deus, isto é fator determinante básico da criação, transformação e manutenção do mundo e dos homens. Para ele, o criador de todas as coisas consiste, portanto, no Trabalho Natura-Social. Este é o fator determinante básico e subjacente de todo processo genético sócio-histórico. Esse processo pode ser pensado, segundo terminologias modernas, como processo genético-dialético de produção do conhecimento, e respectivas transformações sócio-históricas transcorridas em tempo muito longo.

    A história estrutural em tempo muito longo de Braudel foi respaldada por Lévi-Strauss (Artigo 13). Já vimos que essa noção de história é hipótese plausível. Braudel aventou, ainda, a hipótese de que determinadas estruturas sociais podem se repetir, ciclicamente, na história em tempo de duração longa e mesmo longuíssima.[1] É oportuno recordar Braudel:

   “A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao indivíduo, ao evento, habituou-se há muito tempo à sua narrativa precipitada, dramática, de fôlego curto. A nova história econômica e social põe no primeiro plano de sua pesquisa a oscilação cíclica e assenta sobre sua duração: prendeu-se à miragem, também a realidade das subidas e descidas cíclicas dos preços (…) Bem além desse segundo recitativo, situa-se uma história de respiração mais contida ainda, e, desta vez, de amplitude secular: a história de longa e mesmo, de longuíssima duração (o grifo é nosso). …Além dos ciclos e interciclos há o que os economistas chamam, sem estudá-la, sempre, a tendência secular. Mas ela ainda interessa a raros economistas e suas considerações sobre crises estruturais, não tendo sofrido a prova das verificações históricas se apresentam como esboços ou hipóteses, apenas enterrado no passado recente (…) Entretanto, oferecem útil introdução à história de longa duração. São uma primeira chave. A segunda, bem mais útil, é a palavra estrutura. Boa ou má, ela domina os problemas da longa duração. Por estrutura, os observadores do social entendem, uma organização, uma coerência, relações bastantes fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo utiliza mal e veicula mui longamente. Certas estruturas, por viverem muito tempo, tornam-se elementos estáveis de uma infinidade de gerações: atravancam a história, incomodando-a, portanto, comandando-lhe o escoamento” (Braudel, F. História e Ciências Sociais – A longa Duração, p. 44, 49. Extraído de “Annales E. S. C., nº 4, out.-dez.1958, Débats et Combats, pp. 725-753”).

     Não há nada de estranho supormos, que antigos profetas pré-diluvianos houvessem elaborado e aplicado tais hipótese e outras tantas, como método teórico de interpretação da sua realidade histórica. Pois, eles vivenciaram todo um longuíssimo ciclo histórico, o qual chamamos de pré-diluviano (= Pré-II Período Intermediário), e é próprio do homem refletir e registrar suas experiências, inclusive aquelas transcorridas em templo longuíssimo.

     Essas noções consideradas, ainda hoje, como hipotéticas, foram aplicadas pelo elaborador da Teoria da História em tela, cuja origem é muito antiga, mas finalmente foi exposta no livro Gênese. Assim, esse elaborador concebe a realidade sócio-histórica, como um processo genético de transformações ocorridas nas estruturas sociais. Ele focalizou determinadas instituições sociais, que atuam como fatores estruturais e permanentes, ou seja, atuam como instituições estruturais dominante, notadamente a divisão social do trabalho. E, acompanhou, conforme veremos, a trajetória dessa instituição estrutural, na sócio-história transcorrida em tempo de duração longuíssima. Ele percebeu que determinadas instituições permanentes dão, subsequentemente, gênese a outras. Em outros termos, são desdobramentos estruturais que transcorrem em tempo longuíssimo.

     O autor da Teoria da História observou e registrou, ainda, a articulação de cada etapa estrutural da história à respectiva produção do conhecimento.

     Podemos articular a noção de “história estrutural transcorrida em tempo longuíssimo” (Braudel e Lévi-Strauss), com a noção de “transformação sócio-histórica” de Hans Gerh e Wright Mills. Isto nos ajuda a embasar, segundo terminologia moderna, os modelos teóricos elaborados e operados pelo autor da Teoria da História. Por outro aspecto, isto nos ajuda a entender o pensamento deste autor.

    Gerth e Mills consideram, por um aspecto, as noções de sociedade e de história vinculada entre si, pela estrutura social. Assim eles focalizam a noção de “transformações sócio-históricas”, concebendo que “todo modelo de estrutura social compreende um modelo de mudança sócio-histórica (…). A história consiste nas alterações sofridas pela estrutura social”.[2]

    Mostraremos que o elaborador pré-diluviano da Teoria da História escolheu a divisão social do trabalho como a “instituição social dominante”, e por isto mesmo escolheu-a, também, como “unidade de mudança”, em que cada modo de divisão de trabalho é integrado por dois fatores, e engendra uma outra subsequente forma de divisão de trabalho: a divisão social do trabalho sexual engendra a divisão social e oposição do trabalho material (as “mulheres”, isto é, as primeiras agricultoras) e intelectual (o ideólogo-feiticeiro representado na “árvore-serpente”), esta engendra a divisão social e oposição do trabalho agrícola (Caim) e pastoril (Abel), que por sua vez engendra a divisão e oposição entre o campo (Caim) e a cidade (Henoc), etc. Na citação a seguir, grifamos algumas terminologias empregadas por Gerth e Mills, as quais também utilizaremos, para sermos entendidos claramente:[3]

    “A própria estrutura social pode ser subvertida numa revolução total ou por outras transições da época. Isto significa que cada ordem institucional, observado uma mudança (…) de instituição dominante (o grifo é nosso). Isto em geral, significa que as ordens componentes da estrutural social, a forma pela qual se relacionam e se articulam, são recompostas dando origem a uma nova estrutura social. E, o que é mais importante, tais revoluções modificam as justificativas e suas elaborações ideológicas. As mudanças micro e macroscópica podem ocorrer no interior de uma estrutura social como um todo (…) Evidentemente, podem ser escolhidas outras unidades de mudanças (o grifo é nosso)”.

    Gerth e Mills acrescentam, como resumo da suas contribuições para a elaboração de uma teoria da história:[4]

    “Quando consideramos os tipos de mudança que caracterizam uma estrutura social, já temos em mãos as formas de integração, pois a correspondência, a coincidência a coordenação e a convergência, como já vimos não apenas são úteis para análise da integração mais também para as sequências da mudança histórica. Na realidade, essas formas de integração aparecem, sob a perspectiva dinâmica, com principio da transformação sócio-histórica. O problema de uma Teoria da História não compreende conceitos monísticos, nem um pluralismo fundamentado, mais, antes, a pesquisa das causas para sequências históricas especificas: aquelas que, segundo a experiência e os padrões convencionais da evidência científica satisfazem a nossa curiosidade. Em qualquer época histórica devemos discernir as mudanças dentro e entre as ordens institucionais e, então, descobrir as causas verdadeiras. A forma de transformação histórica característica de uma determinada época será, assim, mais ou menos inferência dos tipos de integração dominante na estrutura social que estudamos”.

    A Teoria da História trazida por Moisés se apresenta subdivida em duas grandes partes. A primeira parte (Gn 1ss; 2, 1-4-a) consiste numa “Sistematização Teórica”, ou seja, um “sistema total de teoria sócio-histórica”.[5] Sistema total este desenvolvido por profetas pré-diluvianos a partir da adequada elaboração e articulação de diversas “teorias de médio alcance”.[6] O autor elaborou a Sistematização Teórica. A qual focaliza, segundo as perspectivas sistemática, genética, dialética (cíclica) e estrutural, o Trabalho Natura-Social criando e se mantendo, de modo subjacente, como fator determinante básico do processo dialético de produção do conhecimento e respectivas transformações sócio-históricas da humanidade. Desse modo, o Criador desenvolveu a gênese da humanidade, no curso dialético de sete muitos longos períodos sócio-históricos. O autor emprega a noção de “dia”, como metáfora referente a cada um desses sete sucessivos e longos  períodos sócio-históricos. Assim, temos os sete dias da criação (sócio-história em tempo muito longo): o 1° dia ST (Gn 1, 1-8) ; o 2° dia ST (Gn 1, 6-8); o 3° dia ST (Gn 1, 9-13); o 4° dia ST (Gn 1, 14-19); o 5° dia ST (Gn 1, 20-23); o 6° dia ST (Gn 1, 24-31); o 7° dia ST (Gn 2, 1-4-a).

   A segunda parte da Teoria da História consiste na exposição de uma “Verificação Empírica”, em que são aplicadas, de modo unificado articuladamente, diversas “teorias de médio alcance”, de natureza sócio-histórica, em Gn 2, 4-b-8, 18. Esta segunda parte (Verificação Empírica operada com teorias de médio alcance) foi, portanto, desenvolvida antes da primeira parte (sistematização total de teoria sócio-histórica). Mas, para efeito de exposição do conjunto da obra, de modo hermeticamente codificado, o autor preferiu expor primeiro a Sistematização Teórica, seguida da Verificação Empírica. Vejamos a correlação entre a Sistematização Teórica, seguida da Verificação Empírica, concernente a cada um dos sete dias da criação: o 1° dia VE (Gn 1, 1-8 = Gn 2, 4-b-6); o 2° dia VE (Gn 1, 6-8 = Gn 2, 7); o 3° dia VE (Gn 1, 9-13 = Gn 2, 8-3); o 4° dia VE (Gn 1, 14-19 = Gn 4, 1-16); o 5° dia VE (Gn 1, 20-23 = Gn 4, 17-18); o 6° dia VE (Gn 1, 24-31 = (1ª parte) Gn 4, 19-24 ; (2ª parte) Gn 4, 25-5, 28); o 7° dia VE (Gn 2, 1-4-a = Gn 5, 28-8, 18).

    Vejamos, agora, o elaborador pré-diluviano da Teoria da Historia focalizar, na segunda parte (Verificação Empírica), o surgimento da agricultura, isto é, o chamado período Neolítico, e os desdobramentos subsequentes. Quanto ao curso destes desdobramentos focalizaremos, grosso modo, o fato de o autor haver selecionado, notadamente, entre outras coisas, a instituição estrutural da divisão social do trabalho. E o fato dele haver acompanhado os desdobramentos estruturais da divisão social do trabalho, transcorridos na sócio-história em tempo longuíssimo.

    O trecho que se inicia em Gn 2, 4-b e se estende até Gn 2, 7 retrata, de modo sucinto, diversos aspectos pertinentes aos períodos Paleolítico Superior e Inferior. Períodos estes que podem ser datados, grosso modo, de 500 000 a 10 000 a.C.[7]

    O autor da Teoria da Historia focaliza, na parte que rotulamos de verificação empírica, o surgimento da agricultura, no trecho (Gn 2, 8-25):

    “O Senhor Deus tinha plantado um jardim no Eden, do lado do oriente, e colocou nele o homem que tinha criado…”.

2.1.3. Divisão social do trabalho sexual

    O incremento do estreitamento dos laços pertinentes à divisão social do trabalho segundo a natureza sexual ocorreu a partir do período Neolítico. Ele ocorreu à medida que a mulher inaugurou e introduziu a humanidade no trabalho produtivo agrícola. Assim, além da atividade predatória exercida, prioritariamente, pelo homem. Este passou a ter a mulher exercendo, em sua ajuda, o trabalho produtivo agrícola. Desse modo, a divisão social do trabalho sexual teve inicio, e o autor da Teoria da Historia descreve esse evento, nos seguintes termos simbólicos (Gn 2,18):

    “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada (…). O homem pôs nome a todos os animais dos campos; mais não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada. Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto dormia tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e levou-a para junto do homem.’Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ele se chamará mulher’. Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à mulher; e já não são mais uma só carne”.

2.2. Divisão e oposição social do trabalho material e intelectual.

    Precisamos nos delongar um pouco, para esclarecermos os artifícios empregados pelo elaborador da Teoria da historia, nos trechos em que ele trata da divisão social do trabalho material e intelectual. Posto que, os simbolismos que ele emprega, com meios de codificação hermética, são bem complexos, e exigem explicações adequadas. Em razão disto, focalizaremos este tema no artigo subsequente.

[1] http://www.tribodossantos.blogspot.com.br/#!http://tribodossantos.blogspot.com/2013/02/historia-em-tempo-muito-longo-e-tribo.html

[2] Gerth, H. e Mills, W. Caráter e Estrutura Social, p. 397.

[3] Idem, p. 420.

[4] Idem, p. 425.

[5] Merton, R. K. Sociologia – Teoria e Estrutura, p. 57.

[6] Idem, p. 62-63: Merton observou, com razão, que o pensamento sociológico contemporâneo encontrou dificuldade para elaborar uma teoria da história, ou seja, um sistema total de teoria sociológica. Isto em decorrência de não haver desenvolvido e articulado, devidamente, adequadas e aplicáveis, empiricamente, teorias de médio alcance, mas haver se precipitado em elaborar sistemas gerais da teoria. Neste sentido, ele diz: “Teorias totais de teoria e teorias de médio alcance – (…) parece razoável supor que a sociologia progredira na medida em que sua maior (mas não exclusiva) preocupação for a de desenvolver teorias de médio alcance, e que ficará atrasada se a sua atenção primordial se concentrar no desenvolvimento de sistemas sociológicos totais (…) Hoje nosso tarefa principal consiste em desenvolver teorias especiais aplicáveis a objetivos conceptuais limitados – Teoria, por exemplo, dos desvios de comportamento (…) – mais do que procurar imediatamente a estrutura conceptual total, própria a produzir estas e outras teorias de médio alcance (…) A rota para os esquemas grandes e eficazes de sociologia só ficará obstruída – como aconteceu nos albores dessa ciência – se cada sociólogo carismático tentar desenvolver seu próprio sistema geral da teoria”.

[7] Burns, E. M. História da Civilização Ocidental, p. 8.